O segredo da imaginação
Ao longo dos últimos meses, quando me cruzo com um desconhecido penso na vida dele e na coincidência que é termo-nos cruzado naquele momento. Pode ser no comboio, na passadeira, no supermercado e, até mesmo, num hospital: a verdade é que já não sei observar sem pensar além. O bom e o mau de fazer esta experiência é que nunca sabemos quando estamos perante um grande génio, um criminoso terrível ou, até mesmo, o futuro presidente da república: apenas sabemos que estamos diante de um ser humano.
Enquanto caminho pela calçada portuguesa que muito orgulho me dá quando não estou de saltos, observo a correria das pessoas e tento adivinhar a sua história. Um grupo de senhores engravatados apressa-se e uma mulher corre atrás deles. Será a secretária de um deles ou apenas uma grande alegoria? Adiante. Tento adivinhar como é que aquela senhora foi ali parar e como é curioso que nos tenhamos encontrado naquele dia, naquele espaço, naquele momento. O mesmo acontece quando vejo um motorista, uma vendedora e, até mesmo, um colega de faculdade que já parece catedrático.
Às vezes penso como este exercício pode ser interessante e tenho vaidade nisso, mas depois subo para mais um patamar e o sentimento evapora-se. Refiro-me a um hábito que adquiri desde pequena que consiste em inventar diálogos entre pessoas. Acredito piamente que este é o segredo da minha imaginação e criatividade e que todos deviam experimentar pelo menos uma vez.
(mas que é uma ida sem volta)